
NOTURNO
Ensaio de Street Photography monocromático, inspirado no romantismo francês, tendo como tema a solidão obscura dos poemas do escritor romântico Victor Hugo e a melancolia silenciosa dos “Noturnos” do pianista, também romântico, Frédéric Chopin. A intenção do projeto é desenvolver conceito estético e fotográfico baseado na aparência das fotos do século XIX, traçando um paralelo artístico entre as obras desses dois grandes autores clássicos de domínio público da humanidade.
Noturno é o resultado artístico de um mergulho silencioso nas aflições obscuras de um homem atormentado. Noturno é um retorno ao Romantismo através da fotografia…
Trata se de um ensaio fotográfico temático inspirado no Romantismo francês, simulando o olhar de Victor Hugo e Chopin, retratando o que eles supostamente sentiam enquanto andavam pelas ruas e vielas escuras de Paris, França. As imagens retratam a essência desse período, relacionando a aura sombria da poesia de Victor Hugo com o sentimento solitário e melancólico das vinte e uma obras intituladas “Noturnos”, do pianista romântico Frédéric Chopin. O Romantismo propunha a irracionalidade, os sentimentos individuais e o misticismo em lugar da razão, para além da ligação com o mundo natural. Segundo Edmund Burke e Denis Diderot, tudo o que espanta a alma, tudo o que nela imprime uma sensação de terror, leva ao sublime, ou seja, leva àquilo que é elevado, grandioso e exaltado. Nesta teoria, a beleza e o sublime são opostos. Enquanto a luz realça a beleza, tanto trevas como luz, levadas ao extremo, obliteram a visão do objeto e geram o espanto, a incerteza, a confusão e o sublime. Sendo assim as trevas também podem gerar deleite quando percebemos que o terror é fictício. Esta era uma visão toda contrária à concepção clássica de qualidade estética, admitindo a fealdade e o horror como elementos capazes de gerar prazer estético pelo estímulo intenso das emoções. Kant contribuiu para essa ideia dizendo em sua “Crítica do Julgamento”, que chamamos de sublime aquilo que é absolutamente grande, notando que a beleza se liga à forma do objeto tendo assim limites, mas o sublime transcende a forma, se caracterizando pelo ilimitado. Essa era a essência do Romantismo… Vale lembrar que a fotografia também surgiu neste mesmo período mas não teve a oportunidade de participar do Romantismo porque na época era considerada uma ciência com função social e por conceito caminhava filosoficamente no sentido oposto ao estilo artístico Romântico. Somente a partir do pictorialismo, alguns anos mais tarde, a fotografia passaria a ser vista como forma de expressão artística. Com base nisso realizei esse ensaio, propondo “supor”, qual teria sido a relação artística da fotografia com o Romantismo caso ela tivesse sido melhor aceita pelos artistas Românticos à época de sua criação. A partir do conceito de Agnosia Visual Patológica, eu acredito que o fotógrafo sempre fotografa a si mesmo quando registra uma imagem. Todas as imagens visíveis ao nosso olhar, são na verdade, uma reinterpretação das imagens de nossa memória visual, anteriormente vistas e arquivadas no subconsciente. Por isso acredito que toda fotografia reflete a alma do fotógrafo. Considerando que todo o ser humano é uma obra de arte inacabada em si mesmo, e que toda fotografia é um reflexo do fotógrafo, podemos dizer então que toda fotografia é uma obra de arte inacabada… Sendo assim, faço arte Romântica fotografando minha própria solidão ao percorrer ruas desertas e becos escuros, registrando o vazio sombrio da noite, a fim de traçar o paralelo artístico comum entre a minha fotografia e as obras de Victor Hugo e Chopin. Do ponto de vista técnico, as imagens monocromáticas com aparência de fotos do século XIX mas com intensas nuances escuras e inspiradas no contraste de luz e sombra das obras de Rembrandt e Delacroix, proporcionam maior dramaticidade às cenas, fortalecendo esteticamente a expressão melancólica e obscura de solidão do Romantismo, do texto de Victor Hugo e da música de Chopin.
Ó ABISMO! A ALMA AFUNDA…
Ó abismo a alma afunda em vão na busca ignota. A dúvida nos rói, pingando gota a gota, e os plúmbeos pingos escutamos. O mundo é negro, é bruma o homem e o céu, sombrio; Formas da noite vêm, vão e vêm no vazio. E nós, pálidos, contemplamos o obscuro, o ignorado, o invisível. Sondamos o real, e o ideal e o possível, e o ser, sempre espectro presente. Olhamos como freme a sombra do destino, debruçados na sina em cisma e desatino, com olho fixo e alma tremente. Auscultamos em vão esses vazios fúnebres, escutamos um sopro errando nessas tênebras, e que estremece a obscuridade. E às vezes, a vagar nas noites insondáveis, entrevemos brilhar, com luzes formidáveis, a vidraça da eternidade.
(O GOUFFRE! L'ÂME PLONGE... Victor Hugo/Les Contemplations (1856) - Tradução de Fernando Mendes Vianna) Obs: Este texto, no projeto será relacionado ao Noturno número 7 em C ♯ menor - Op. 27 No. 1 - composto por Chopin em 1835.











